Data da publicação: 07/11/2024
No dia 4 de novembro, toneladas de sementes de espécies nativas do Redário – articulação de grupos e redes de coletores - chegaram à Pindamonhangaba (SP). Desde então, estão sendo preparadas pela equipe do Redário, com apoio dos Coletores do Vale do Paraíba para serem distribuídas para diversas regiões do país. Até o dia 15, seguirão seu destino de virar florestas em mais 50 projetos de restauração ecológica, a maior parte através da semeadura direta de muvuca .
Pelo segundo ano consecutivo, Pindamonhangaba sedia o processo de receber, conferir, homogeneizar e distribuir as mais de 250 espécies coletadas por grupos e redes articuladas ao Redário em todos país e que contribuirão com a restauração de cerca de 1400 hectares.
Com isso, em 2024, a estimativa da área restaurada – dados sistematizados desde 2006 - por muvuca de sementes dos grupos e redes do Redário passará de 15 mil hectares. Esse número é equivalente a 10% da área em restauração no Brasil informada pelo Observatório da Restauração e Reflorestamento (ORR).
Assim redes de sementes que compõem o Redário, que atualmente reúne 27 grupos e redes de coletores – a maioria de base comunitária, cooperativas e associações de povos tradicionais, assentados e agricultores familiares – somam mais de 580 toneladas de sementes nativas vendidas desde 2006.
RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA POR SEMEADURA DIRETA DE MUVUCA
A restauração ecológica é a regeneração, recuperação da saúde, da integridade e da sustentabilidade de ecossistemas, para que a natureza retome o seu curso.
Quando se fala em restauração, é comum pensar no plantio de mudas de árvores, mas em várias regiões do país, a Iniciativa Caminhos da Semente, liderada pela Agroicone e pelo Instituto Socioambiental (ISA) – que também compõem o Comitê Gestor do Redário - e outras organizações estão usando a técnica chamada “muvuca”.
A muvuca é uma mistura de sementes de diferentes espécies e ciclos de vida (como capins, árvores e adubos verdes) que são plantadas de uma só vez.
Semeadura direta é uma técnica de restauração ecológica em que as sementes são lançadas diretamente no solo.
Do ponto de vista econômico, a combinação dessas técnicas leva vantagem sobre as mudas, porque exige menos mão-de-obra, menos manutenção, é fácil de transportar e não necessita de irrigação.
Ambientalmente, se destaca porque consegue uma cobertura florestal mais densa, mais rápida e mais parecida com o crescimento orgânico da floresta.
Além de tudo isso, ainda estimula a geração de renda por redes de coletores de sementes.
A semeadura direta é reconhecida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) como técnica eficaz para a restauração ambiental. É certificada como tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil, assim como o Redário.
ANTES, BEM ANTES
Nos meses anteriores, povos tradicionais (como indígenas, geraizeiros, quilombolas, kalungas, ribeirinhos), assentados e agricultores familiares e urbanos coletaram e beneficiaram sementes nativas nos seus territórios (como o Parque Nacional do Monte Pascoal (BA); Reserva de Desenvolvimento Sustentável Geraizeiras (Montezuma – MG- Cerrado Mineiro), Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso e Vale do Paraíba e Vale do Ribeira (SP), Chapada dos Veadeiros (GO).
Essas sementes viajaram por milhares de quilômetros por estradas de chão, rodovias e até hidrovias, como é caso das sementes que serão distribuídas a partir de Altamira (PA), antes de serem floresta de novo.
AVANÇOS
De acordo com informações divulgadas pelo ORR, no último dia 17, a área total em restauração no país é de aproximadamente 150 mil hectares.
Conforme os dados da plataforma nacional de monitoramento, as áreas em processo de restauração no Brasil cresceram 90% desde 2021 – ano 1 da Década da Restauração e Ecossistemas (2021 a 2030) declarada pela Organização das Nações Unidas – ONU. O Brasil tem como meta recompor e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas e restaurar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas com ampliação de cinco milhões de hectares de sistemas de integração de lavoura, pecuária e floresta.
Ainda conforme a ORR, os biomas onde a restauração mais avançou são: Mata Atlântica, com 77%; o Cerrado, com 13% deste total; e a Amazônia, com 9,5% da área restaurada. Na plataforma on line também é possível conferir o mapeamento de 8,76 milhões de hectares de reflorestamento e 18,58 milhões de hectares de vegetação secundária - processo de regeneração natural sem qualquer tipo de intervenção humana após algum tipo de corte raso, queimada ou uso para agricultura ou pastagem
PLAAVEG 2024-2028
O Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa, define diretrizes para acelerar e dar escala à restauração no Brasil. Inicialmente lançado em 2017, passou por uma revisão e consulta pública.
A versão 2024, aprovada pela Comissão Nacional para Recuperação da Vegetação Nativa (Conaveg) foi lançada, em 28 de outubro, durante a 16ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica 2024 (COP 16).